O Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro (Lab-LD) da Polícia Civil de São Paulo identificou pouco mais de R$ 9,6 bilhões em fluxos financeiros ilícitos em 2024. Em um ano, o montante cresceu 113%, de acordo com os investigadores. Em 2023, o total apurado pela equipe do laboratório foi de R$ 4,5 bilhões oriundos da lavagem de dinheiro.
Para esconder o recurso, criminosos utilizam empresas “legítimas” de diversos ramos, como postos de gasolina, hotéis e concessionárias de veículos, a fim de tentar ocultar a origem ilegal dos recursos. Por meio de um trabalho minucioso, a equipe especializada que integra o núcleo rastreia e identifica a origem real do dinheiro, que é proveniente de crimes como estelionato, tráfico de drogas, corrupção e outros.
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O lema principal para os trabalhos neste núcleo é “seguir o dinheiro”.
Segundo a equipe envolvida em todo o processo de investigação, os criminosos expandiram a atuação para diferentes ramos na tentativa de lavar o dinheiro proveniente do crime organizado.
Os policiais que atuam no núcleo possuem uma estrutura profissional, com apoio de agentes especializados. A equipe do Lab-LD tenta identificar o crime nas “entrelinhas”, com muitas análises e investigações até chegar ao “ponto de partida”, ou seja, a ação que realmente fez os investigados a enriquecerem tão facilmente.
O secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, destaca a atuação do laboratório, que tem um papel crucial nas investigações policiais em todo o território paulista. “São criminosos que faturam cifras milionárias tentando usar meios legais ou de fachada para lavar o dinheiro obtido de maneira ilícita. Essas organizações acham que não serão identificadas, porque escondem a verdadeira origem do dinheiro. Porém, nós temos uma equipe especializada que tem dado todo suporte para apurar a origem, servindo de base para as investigações policiais, reprimido cada vez mais essas quadrilhas”, afirmou.
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Como funciona o trabalho no Lab-LD?
O Lab-LD da Polícia Civil de São Paulo é um dos mais estruturados do país, com uma equipe de mais de 30 agentes que contam com tecnologias cada vez mais sofisticadas que dão ênfase e agilidade às investigações. Os profissionais, muitos deles formados em ciências contábeis, administração e economia, só entram em ação após pedidos de delegacias regionais para analisar a fundo suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro.
“Os próprios policiais das delegacias fazem os atos de Polícia Judiciária e, aqui, nós fazemos a análise dos dados financeiros, junto com fontes abertas e outras bases de dados que pesquisamos para procurar as informações sobre o esquema investigado, tudo isso com autorização judicial, após a quebra do sigilo” informou a Polícia Civil.
O núcleo especializado integra a Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (Enccla), que reúne órgãos públicos, sociedade civil e Ministério Público para combater esses tipos de crimes. Atualmente, os integrantes buscam entender como os criminosos estão conseguindo entrar na economia lícita.
Dinheiro apreendido é destinado à segurança pública
O Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de Dinheiro trabalha em conjunto com o programa Recupera-SP, que destina os recursos apreendidos com o crime organizado para o fundo estadual da segurança pública. Os valores são revertidos em investimentos nas forças policiais do estado, como aquisição de equipamentos, aprimoramento de tecnologias e infraestrutura.
O delegado Lawrence Tanikawa, do Grupo Setorial de Planejamento, Orçamento e Finanças Públicas da Secretaria da Segurança Pública (SSP), explica que “o LAB-LD realiza as medidas de inteligência financeira e no suporte geral às unidades policiais, analisando as evoluções patrimoniais dos investigados e outros dados de interesse. Após o encerramento dessas investigações, durante a ação penal, caso os valores bloqueados, bens arrestados ou sequestrados sejam perdidos em favor do Estado, por decisão judicial, o Recupera-SP tem a incumbência de auxiliar na incorporação deste patrimônio”.
O decreto que regulamenta o programa foi publicado em setembro do ano passado e, já em novembro, o Governo de São Paulo fez a primeira recuperação de R$ 10 milhões oriundos do crime organizado. O valor, que estava bloqueado na conta de investigados por lavagem de dinheiro e jogos de azar, será aplicado para a construção de uma nova delegacia, quatro drones para a Polícia Militar e reestruturação do Instituto Médico Legal (IML), todos na cidade de Taubaté, onde ocorreu o caso.