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Espécies invasoras podem ser portadoras silenciosas de bactérias resistentes, alertam pesquisadores da USP

22 de junho de 2025
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Espécies exóticas invasoras (EEIs) da fauna são um grave problema para o balanço ecológico, pois competem com espécies nativas por recursos e alteram o hábitat natural da região. Dois motivos para a introdução delas são as ações humanas, que propiciam a migração animal forçada, e o comércio ilegal de vida silvestre. Como não possuem predadores naturais, elas se proliferaram rapidamente no ambiente e podem causar desequilíbrios nas cadeias alimentares e em todo o ecossistema.

Contents
De espécies invasoras à saúde humanaComércio de animais exóticosO perigo das mudanças climáticas

Além dos impactos bem documentados à biodiversidade, um desafio secundário é ainda pouco avaliado: a transmissão cruzada de patógenos microbianos. Os animais podem trazer patógenos de sua área original de distribuição – transportando-os para locais não endêmicos da doença – ou adquirir aqueles já estabelecidos no ambiente invadido.

Pesquisadores da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP realizaram uma revisão da literatura global sobre a ameaça de espécies invasoras como carreadoras de bactérias multirresistentes, em especial bactérias consideradas prioritárias pela Organização Mundial da Saúde (OMS). A OMS agrupa bactérias por nível de risco (médio, alto ou crítico) com base em diversos critérios, como resistência antimicrobiana, carga de transmissão da doença, dificuldade de tratamento e taxa de mortalidade.

O primeiro autor do artigo é Gabriel Siqueira, doutorando no programa de Epidemiologia e Saúde Única da FMVZ. Ele explica que o trabalho é um desdobramento de seu mestrado, no qual estudou a resistência à E. coli em quatis e como estes animais podem ser sentinelas de contaminação ambiental.

A partir de suas descobertas, Siqueira adquiriu um novo olhar frente à evolução populacional acelerada das espécies exóticas invasoras: “Existe uma dinâmica epidemiológica que não estava sendo devidamente observada, […] em relação ao impacto que uma bactéria pode ter quando é carreada [por uma espécie invasora]”.

O trabalho foi orientado por Marcos Bryan, docente do Departamento de Medicina Preventiva e Saúde Animal e diretor do Laboratório de Zoonoses Bacterianas. As evidências de maior qualidade referem-se a animais sinantrópicos — como pombos e ratos que, mesmo não tendo sido domesticados, se adaptadaram para encontrar alimento e abrigo no meio alterado pelo homem. Eles são considerados portadores silenciosos pois não apresentam sintomas quando estão infectados, o que dificulta a detecção da doença e o controle da população.

Pássaros têm potencial de espalhar rapidamente bactérias clinicamente relevantes por longas distâncias, enquanto a questão dos invertebrados tem sido ainda mais negligenciada

“Se a espécie entra no nosso meio e carrega uma bactéria com genes de resistência microbiana que não são compartilhados com animais da nossa biota, ela pode se disseminar e chegar nos humanos ou nos animais domésticos”, diz Marcos Bryan.

O cientista comenta a possibilidade de carreamento internacional: os javalis, por exemplo, foram originalmente introduzidos na Argentina e no Uruguai, mas escaparam e migraram sem controle para o Brasil.

Como a caça é comum no país, Siqueira afirma que caçadores podem entrar em contato com patógenos através do consumo da carne e adquirir doenças

Outra possibilidade é que animais sinantrópicos entrem em contato com bactérias multirresistentes do próprio meio urbano. “Nas cidades, há uma abundância de multirresistentes, por questões de saneamento e pelo uso exacerbado de antimicrobianos”, afirma Bryan. As EEIs que coexistem com humanos podem adquirir bactérias por contaminação ambiental e amplificá-las de forma desenfreada, dada a sua facilidade de reprodução.

“O contato com uma rede de esgoto que recebe efluente hospitalar, por exemplo, é uma importante fonte de contaminação”, complementa Siqueira. Em seu atual doutorado, ele conta que está identificando patógenos resistentes em gambás na capital de São Paulo.

Pesquisas internacionais também revelam que o estorninho europeu, ave exótica nos EUA, carreia bactérias de alta importância. “Em uma espécie endêmica, hospedar bactérias [não é tão grave] pois a espécie está sob controle, mas em EEIs, a bactéria se expande irrestritamente junto com a espécie”, reforça Bryan.

De espécies invasoras à saúde humana

Michele Dechoum, docente do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é colaboradora do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental e uma das cogestoras da Base de Dados Nacional de Espécies Exóticas Invasoras no Brasil.

Ela explica que espécies exóticas se relacionam a infecções humanas de quatro principais formas. A mais direta delas ocorre quando espécies invasoras são o próprio agente causador de uma doença, como o vírus da Influenza, que possui alta capacidade de mutação e recombinação genética e se adapta a hospedeiros não tradicionais (humanos, suínos e cães).

O segundo caso são invasores que atuam como vetores de patógenos. O Aedes aegypti é um problema importante, pois desenvolveu a capacidade de se reproduzir em diversos espaços do ambiente urbano, superando as taxas naturais de proliferação. “Ele é o principal exemplo, quando pensamos em impactos da saúde pública e impactos econômicos no Brasil”, destaca Michele.

Uma terceira relação indireta ocorre quando plantas invasoras servem de hábitat para um parasita de humanos. “Um caso conhecido é da Lantana camara [arbusto conhecido como camará-de-cheiro], nativa de algumas regiões no Brasil que se tornou problema sério no continente africano por facilitar o ciclo de vida de patógenos”, exemplifica a pesquisadora.

O quarto modo, por fim, foi foco do estudo da USP: mamíferos, aves e alguns invertebrados (como caracóis) que funcionam como reservatórios patogênicos.

Comércio de animais exóticos

Um fator determinante para o surgimento de novos reservatórios é a popularização do comércio de animais exóticos. A importação de répteis e anfíbios é proibida no Brasil pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) desde 1998. Mas a fiscalização e o controle da circulação dessas espécies permanece falho. O maior risco é a perspectiva de escape.

“À medida que ocorre a soltura desses animais da natureza, aumenta a chance de um spillover de patógenos, ou seja, uma infecção por transbordamento [de doenças não nativas]”, diz Michele Dechoum.

O fenômeno do spillover acontece quando um reservatório natural (população hospedeira original) com alta prevalência de um patógeno entra em contato com uma nova população hospedeira. Nesse cenário, a bactéria proveniente de um animal silvestre passa para um vetor intermediário e pode atingir a espécie humana.

O perigo das mudanças climáticas

Michele destaca que a degradação ambiental é um agravante no cenário da invasão de espécies. “Olhando especialmente para o desmatamento, a gente está se aproximando e ocupando cada vez mais o espaço de animais silvestres, […] e ficando muito mais sujeitos a novas doenças”, aponta.

A dinâmica de ocupação de hábitat causada pela adaptação dos animais ao ambiente urbano também é uma grande preocupação. Os autores discutem que, com as mudanças climáticas, espécies invasoras têm conseguido ampliar a sua distribuição em detrimento de espécies nativas. Como resultado, as invasoras chegam a novos locais e reduzem a diversidade e a resiliência dos ecossistemas frente à invasão.

Além dos impactos na saúde humana, o efeito inverso também ocorre: animais domésticos e sinantrópicos entram em contato com a fauna silvestre e transmitem doenças não naturais. “[Uma preocupação] no Brasil é que temos uma lacuna imensa de conhecimento de microrganismos”, ressalta Michele. Em 2024, ela foi coordenadora geral do Relatório Temático Sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. O trabalho apontou a existência de mais de 500 espécies invasoras no Brasil, mas pouca ou quase nenhuma informação concreta sobre microrganismos.

De acordo com os cientistas da USP, para solucionar essa lacuna, a multidisciplinaridade é uma ferramenta essencial. A abordagem One Health tem ganhado protagonismo na ciência moderna.

“Como entender a magnitude desses impactos combinados — de invasões biológicas, mudanças climáticas, degradação de ambientes — na perspectiva não só da saúde humana, mas da saúde dos ecossistemas, da saúde vegetal, da saúde animal?”, questiona Michele Dechoum.

Com avanços na área, a expectativa é construir medidas de biossegurança mais eficazes para o homem e para a natureza nativa. “O Ministério da Saúde formou um grupo de trabalho importante relacionado à Saúde Única, que tem um braço relacionado à resistência antimicrobiana e que deveria dar atenção para esse tema”, finaliza Siqueira.

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